2.2. Como é que a agenda oculta impede os alunos de deixarem cair a bagagem e como podemos evitar que a agenda oculta afete as nossas formas de ensinar e aprender?

Existem diversas interpretações do termo “agenda oculta” disponíveis na literatura e na web. No nosso projeto Dropping the Baggage e nesta metodologia S.C.R.E.A.M! No manual, optamos por definir agenda oculta como uma situação em que alguém persegue secretamente um objetivo específico enquanto parece estar envolvido em outra coisa.

Uma agenda oculta pode implicar:

  • Quando os educadores possuem informações sobre um aluno que influenciam a forma como ensinam.

Digamos que um professor tenha conhecimento prévio de que um aluno teve dificuldades com uma matéria específica no passado. O professor pode ter acesso ao histórico acadêmico do aluno ou ter sido informado por educadores anteriores. Armado com esta informação, o professor pode abordar o aluno com expectativas mais baixas, assumindo que ele continuará a ter dificuldades. Como resultado, o professor pode, involuntariamente, fornecer tarefas menos desafiadoras ou oferecer menos apoio ao aluno, limitando as suas oportunidades de crescimento. Esta agenda oculta de noções preconcebidas baseadas no desempenho passado do aluno pode dificultar a experiência de aprendizagem do aluno e potencialmente impedi-lo de atingir o seu pleno potencial.

  • Quando os educadores estabelecem metas para os alunos sem informá-los sobre seus planos.

Digamos que um professor estabeleça uma meta para um aluno melhorar suas habilidades de escrita. O professor mantém esse objetivo oculto e não o comunica ao aluno. Em vez disso, o professor atribui tarefas de escrita e fornece feedback sem declarar explicitamente o objetivo de melhorar a proficiência na escrita. Como resultado, o aluno pode ficar confuso sobre o propósito dessas tarefas e o feedback que recebe. Eles podem não entender por que a escrita está sendo enfatizada ou como ela se conecta aos seus objetivos gerais de aprendizagem. Esta falta de transparência pode levar à frustração e ao desinteresse. Enquanto isso, o professor continua avaliando o progresso do aluno com base no objetivo não divulgado de melhorar as habilidades de escrita. Porém, sem que o aluno tenha consciência desse objetivo, eles podem não compreender totalmente as áreas nas quais precisam se concentrar ou o progresso que se espera que façam. Ao manter o objetivo oculto, o professor pode inadvertidamente prejudicar a motivação do aluno e prejudicar a sua capacidade de se apropriar da sua aprendizagem. A comunicação aberta dos objetivos permitiria ao aluno compreender o propósito, trabalhar ativamente para melhorar e colaborar com o professor para criar um plano de aprendizagem mais eficaz.

  • Quando educadores ou alunos ocultam informações uns dos outros que poderiam impactar a jornada educacional do aluno.

Imagine que um aluno está enfrentando desafios pessoais em casa que estão afetando seus estudos. Eles podem estar lidando com uma doença familiar, dificuldades financeiras ou outros problemas pessoais. Porém, o aluno decide não compartilhar essas informações com seu professor, mantendo-as ocultas. Simultaneamente, o professor percebe um declínio no desempenho e na frequência do aluno. Apesar das suas observações, o professor não pergunta diretamente sobre as razões subjacentes às dificuldades do aluno e assume que se devem apenas à falta de esforço ou motivação. Como resultado, o professor continua a fornecer feedback e avaliação com base em informações incompletas. Eles podem presumir que o aluno não se dedica ou não se esforça o suficiente para melhorar. Isso pode levar a mal-entendidos, frustração, e uma crescente desconexão entre professor e aluno. Ao reter informações cruciais sobre os desafios pessoais que o aluno enfrenta, impede que o professor compreenda plenamente a sua situação. Como resultado, o professor pode perder oportunidades de oferecer apoio, recursos ou abordagens alternativas que possam ajudar o aluno a superar as dificuldades existentes. Isto pode criar uma barreira à comunicação e ao apoio eficazes. A comunicação aberta, confiável e transparente entre educadores e alunos é vital para garantir que informações relevantes sejam compartilhadas, permitindo uma compreensão mais holística das necessidades do aluno e fornecendo assistência adequada para melhorar a sua jornada educacional.

É crucial que os alunos estejam cientes de sua própria bagagem para aprender como lidar com ela. Confiar apenas nas suposições dos educadores e na consciência da bagagem ao criar planos de estudo para os alunos é insuficiente. Alguns educadores acreditam que abordar um novo grupo ou aluno com uma perspetiva completamente imparcial lhes proporcionará uma “lousa em branco”. No entanto, acreditamos que desconhecer completamente a formação de um aluno pode não ser a abordagem mais profissional. A noção de começar do zero é uma ilusão porque a nossa perceção de um aluno é moldada por vários fatores.

Em segundos, formamos uma impressão inicial do aluno e de seus pais, influenciada por:

  • A aparência, estado emocional, esforço físico, exercícios ou expressões faciais do aluno.
  • As conotações associadas ao nome do aluno.
  • A natureza do contato e da comunicação, como espontaneidade, contenção, evitação de contato visual, tom de voz ou estilo de linguagem.
  • Familiaridade prévia com a família do aluno, ter ensinado um irmão ou conhecer os pais.
  • Histórias compartilhadas por colegas sobre o aluno e sua família.
  • Experiências passadas que podem levar a comparações como “Essa criança me lembra…”

Essas impressões, formadas consciente ou inconscientemente, moldam a nossa abordagem inicial e interações com o aluno. Portanto, começar do zero é um desafio, pois já carregamos noções pré-concebidas baseadas em diversos fatores.

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